Os problemas ambientais são consequência direta da intervenção humana nos diferentes ecossistemas da Terra, causando desequilíbrios no meio ambiente e comprometendo a qualidade de vida. Com o crescimento do município de Cachoeiro de Itapemirim e o seu consequente inchaço urbano, houve uma significativa mudança da paisagem da cidade, além de, evidentemente, o desaparecimento das poucas espécies de fauna e flora que restaram, o que conduziu à redução da biodiversidade local, alterações significativas do clima e mudanças na dinâmica de vivências da população.
Do ponto de vista socioambiental, Cachoeiro é um município altamente degradado e que sofreu grandes intervenções da ação humana, principalmente a partir de 1907 com a expansão da ferrovia, instalação de uma fábrica de tecidos, uma grande usina de açúcar, de cimento, dentre outros segmentos.
Anos mais tarde, houve a expansão das empresas de mármore e granito, crescimento acelerado do comércio de produtos e serviços, resultando em aproximadamente 110 anos de exploração intensa dos recursos naturais nas áreas periféricas e rurais.
A região central de cidade também pode ser incluída no mapa das mudanças drásticas, uma vez que sempre foi uma das mais frequentada do município e é formada de vias de largo acesso à outras importantes avenidas e também sede de empresas, comércio em geral, etc. Segundo dados do IBGE (2024) estima-se que o município tem cerca de 198.786 habitantes, e cerca de 40.000 cidadãos passam pela região central diariamente.
A exposição fotográfica “Minha cidade, meu habitat” foi criada para dar ao público em geral uma oportunidade de visualizar estas mudanças ocorridas na cidade e despertar o interesse para a preservação do patrimônio urbanístico e histórico. A exposição é composta de algumas imagens antigas que sofreram intervenção humana ao longo do século século, acompanhadas de suas respectivas comparações com fotos atuais feitas no exato local.
Com uma referência de "antes e depois", lado a lado, as fotografias trarão os impactos negativos e também alguns positivos destas mudanças e será realizada por equipe que já atua em projetos culturais e estudos de impacto ambiental.
O projeto “MINHA CIDADE, MEU HABITAT” tem como objetivo despertar o senso de pertencimento à proteção ambiental por meio de produção e exibição de um acervo fotográfico realista, que trará os aspectos positivos e negativos à título de impacto. Além disso, o programa pretende promover cultura, difusão de conhecimentos e incentivo à materialização de ações focadas nas emergentes questões socioambientais.
OFICINA CONTINUADA DE MONITOR DE CULTURA, MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE - 9° BIENAL RUBEM BRAGA
Local: SESC Cachoeiro de Itapemirim - 2° Piso
26/10
13h as 14h
Lançamento do filme Ruínas Capixabas
15h as 21h
Patrimônio Natural e Cultural: uma construção da cidadania
Patrimônios de Todos Nós: Saberes e formas de Expressão
Arte e Patrimônio: Desenvolvimento da Economia Criativa
Fundamentos e práticas de monitoria ambiental, patrimonial e cultural
EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA PRESENCIAL
29 de Outubro a 01 novembro de 2024
Local: Casa da Memória
9h às 18h: Visita guiada pela Exposição Fotográfica: "Minha Cidade, Meu Habitat"
Prioritário: Participantes da 9° Bienal Rubem Braga e Moradores de Cachoeiro de Itapemirim/ES, de todas as idades e condições socioeconômicas do município, além de visitantes.
EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA
As imagens atuais pertencem ao acervo da Raízes Produtora e as imagens antigas são da Coleção Gil Gonçalves que está sob os cuidados de Higner Mansur
A Casa da Memória e a Loja Maçônica Fraternidade e Luz representam um marco histórico na virada do século XX e na expansão econômica do município. Em plena atividade à serviço das letras e da educação de pessoas, há mais de 100 anos, esses ícones do patrimônio têm se adaptado às novas gerações com atividades intensas e muita cultura.
A paisagem já não é mais a mesma. A rua tranquila dá lugar à movimentada rua 25 de março, um dos principais acessos ao centro da cidade. Ao lado da Loja Macônica e da Casa da Memória é possível ver uma área verde, atualmente ocupada por muitos edifícios. Ao centro da rua, vestígios da iluminação à moda antiga, antes da chegada da energia.
Um das áreas mais impactadas pelo crescimento urbano foi o centro da cidade. Embora essa área tenha recebido intervenções do comércio de produtos e serviços, é notória a mudança realizada ao longo dos anos. Comparando esta foto com esta ao lado, feita há mais de 80 anos no mesmo local, é possível notar o prédio cinza ainda em funcionamento, sede de uma empresa de educação e outra de saúde.
O desenvolvimento da infraestrutura urbana alterou a forma como as cidades funcionam. As ruas de chão batido ou de paralelepípedos deram lugar a avenidas amplas e pontes. A edificação do centro, a Casa Saletto, já não vende mais os "secos e molhados" e a quantidade de pessoas na rua já denunciava um momento festivo que acontecia no exato momento em que a foto foi registrada.
A paisagem arquitetônica das cidades mudou significativamente. Em Cachoeiro não foi diferente. Os edifícios, que começaram a surgir no início do século XX, hoje dominam o horizonte do lugar. Aos poucos, os antigos casarões cederam lugar à uma arquitetura contemporânea combinada com estética e funcionalidade, incorporando materiais inovadores e práticos, como rochas ornamentais e o vidro.
Infelizmente, ao passo que o moderno chegava, parte do centros históricos não conseguiram ser preservados e revitalizados, o que causou um desequilíbrio entre o antigo e o contemporâneo. Essa antiga edificação foi totalmente destruída para dar lugar ao prédio do INSS e um escritório de advocacia. Por uma impossibilidade de se manter o espaço, a cidade foi ganhando novos ares e cores.
Quem passa pela Jerônimo Monteiro pode não imaginar que a avenida sempre foi movimentada, ano após ano. Considerando a foto ao lado, podemos ver que a geografia do local foi tomada por prédios mais modernos, retirada de árvores e, obviamente, trânsito de muito mais veículos e pessoas. A paisagem urbana mudou drasticamente ao longo dos anos mesmo!
Os tempos de paz, quando crianças circulavam tranquilamente nas ruas do centro, se foram. Nessa foto é possível ver, à direita, o antigo Hotel Toledo, parte da Praça dos Taxis e a ladeira que dá acesso ao bairro Alto Amarelo, repleta de casas da época, que remetem a um tempo de nostalgia e boas lembranças. Tempos de calmaria.
A área central dos taxis conseguiu preservar a sua praça, mas as redondezas mudaram e muito! Se formos comparar o antes e depois, vimos que só restou mesmo este espaço preservado na praça dos Táxis, uma vez que as edificações, a pavimentação e até mesmo as árvores não são mais as mesmas. O progresso veio, mas há algo nas cidades que preservam um pouco do passado.
Com a industrialização e o êxodo rural, pessoas migraram para as cidades em busca de melhores oportunidades de emprego e serviços. Aos poucos, Cachoeiro foi vendo sua paisagem urbana se modificar, incorporando transporte público, iluminação das ruas e outras vantagens adquiridas pelo crescimento acelerado urbano.
As preocupações com o meio ambiente transformaram as prioridades das cidades modernas. No entanto, apesar do foco crescente em práticas urbanas sustentáveis, algumas áreas de Cachoeiro estão longe de amenizar o impacto ambiental. A área do antigo posto Oásis (demolido em 2024) demostra que a necessidade de haver mais empreendimentos supera as medidas de proteção ambiental.
Longe das questões de preservação ambiental, o município avançava em seu processo de crescimento, com a oferta de hotéis, edifícios comerciais, lojas diversificadas e um comércio cada vez mais latente e orientado para atender à uma população que avançava a cada ano. Antes do Posto Oásis havia uma praça. Será que, após a demolição do posto, voltará a ser espaço de lazer?
As cidades mudaram ao longo dos anos, adaptando-se aos desafios e oportunidades trazidos pelo tempo. Nestas duas imagens vemos que a paisagem urbana foi drasticamente mudada pelo avanço civilizatório. A impressão que temos é que houve mesmo um inchaço urbano, ocasionado sobretudo pelas novas edificações, incansavelmente amontoadas.
A rua Bernardo Horta de antigamente não se parece em quase nada com a atual. A Estação Ferroviária continua ali, escondida em meio a um posto de gasolina, restaurante, lojas, bancas e uma série de pontos comerciais. À medida que a urbanização se intensifica, muda (e muito) o desenho das cidades, o modo de vida de pessoas.
Na rua Capitão Deslandes houve uma evolução significativa nos índices demográficos, aumento de novos negócios e, como isso, a transição de um logradouro pacato para um espaço de trânsito intenso e novos investimentos. Ao longo da rua, há presença massiva de prédios de diversas formas, que não seguiram necessariamente um padrão. Isso faz a cidade ir perdendo parte da sua identidade.
O antes da rua Capitão Deslandes, no tempo das camionetes que circulavam livremente pelas ruas, sem maiores preocupações. Atrás do pequeno comércio que já despontava no lugar, há a parte alta da região central, que viu sua área crescer vertiginosamente a partir dos anos 60 e 70 e, assim, aumentou também a oferta de apartamentos e salas comerciais.
Talvez este seja o "antes e depois" mais radical de todos os espaços públicos de Cachoeiro. O que era uma rua densamente arborizada, transformou-se em uma via pública dominada por veículos e pedestres. Ao que parece, a única edificação que sofreu poucas intervenções foi o Palácio Bernardino Monteiro, que segue firme como um dos maiores patrimônios preservados, apesar de tantos impactos.
Falando em impacto, ao analisarmos esta imagem, vemos que o impacto ambiental ocasionado pela mudança radical da paisagem urbana, contribuiu para o impacto visual de forma negativa, com a retirada de tantas árvores que exerciam tanto o poder de redução do calor (que já era excessivo no início do século), quanto de embelezamento da cidade.
O Palácio Bernardino Monteiro é um dos maiores patrimônios materiais de Cachoeiro. A partir dele, foi possível contar um pouco da história cachoeirense, falar sobre suas origens e a sua evolução ao longo do tempo. Cada história surgida ali, em meio às suas majestosas portas e janelas, permitiu às gerações compreenderem suas raízes e sua identidade cultural.
O local foi o primeiro grupo escolar de ensino gratuito de Cachoeiro e o segundo do Estado. De escola à sede do poder público municipal, o Bernardino Monteiro segue fiel às suas raízes de prover formação humana e lazer. Ao manter esse importante bem patrimonial, as sociedades reforçam suas ligações com o passado, gerando uma sensação de pertencimento e continuidade ao longo do tempo.
Além de proteger a história, o Patrimônio Material e outros espaços preservados promove a continuidade de tradições, costumes e valores culturais. Um exemplo disso é a Praça Jerônimo Monteiro que, ao longo das décadas, vem presenciado e resistindo às alterações em seu formato, além de ser testemunha direta das mudanças políticas e sociais.
De local extremamente arborizado à uma praça com palmeiras. Não foi possível manter o seu desenho original e a praça também sofreu efeitos do impacto ambiental. No entanto, ela se manteve coexistindo com o Palácio Bernardino Monteiro, reforçando ligações com o passado, gerando uma sensação de pertencimento e continuidade ao longo do tempo.
A Casa dos Braga, residência da família de Rubem e Newton Braga, é um dos cartões postais de Cachoeiro e faz jus à sua fama de Patrimônio Material preservado pois manteve boa parte da sua originalidade, apesar de tantas intervenções urbanísticas ao seu redor. É sinal de que a memória de Rubem está cada vez mais viva!
Na imagem do início do século é possível ver a rua 25 de março com algumas edificações e, à esquerda, a Casa dos Braga. Algumas pessoas transitavam livremente na rua e, abaixo do gradeado, passava o córrego Amarelo. Tempos que insistem em, por meio de fragmentos preservados, deixar sua memória viva, apesar do impacto ambiental sofrido pelo município.